É preciso obrar

Já estava entardecendo quando um senhor, com mais ou menos setenta anos, bateu à porta e perguntou com toda tranquilidade, como quem não tem presa pela resposta: - "Aquilo que está em seu interior é demonstrado por meio das atitudes?". Por um momento não quis o responder, era necessário analisar se o que ando praticando está em conformidade com o que penso.O convidei então para entrar e ofereci um café. Ele, muito educado, assentou e antes de tomar o café, refez a pergunta. Perguntei o porquê deste questionamento. Ele respondeu com leveza que deseja que eu seja feliz, logo não quer que eu tenha medo de colocar em prática aquilo que passa em meu interior. Exemplificou com o caso de uma velha paixão, dizendo que por ter tido medo, e ao mesmo tempo vergonha de dizer o que sente, não conseguiu vivencia-la.

Depois desta história com um final infeliz, eu disse a ele que era necessário pensar primeiro antes de responder a questão. Ele, por sua vez, disse que não tem pressa pela resposta, porém completou dizendo que quem tem pressa é o tempo. Levantou tranquilamente e falou que voltaria amanhã no mesmo horário.

Fui para cama por volta das meia noite, porém quem disse que este questionamento me deixava dormir? É, passei boa parte da madrugada analisando as minhas atitudes, a falta e o excesso delas em algumas questões. Percebi que tenho receio de dizer sobre os meus sentimentos, e receio de praticar ações que trazem bem estar. Percebi também, que pratico inúmeras ações que não estão em conformidade com o que penso. Depois de mais de duas horas me questionando, adormeci.

A noite da visita havia chegado, preparei um belo lanche e fiquei o esperando. Exatamente no horário que ele havia dito que chegaria, ele chegou. Conversamos durante um bom tempo sobre outras questões, conversar com pessoas mais velhas é um aprendizado e tanto, eu não poderia perder uma oportunidade como esta. Por volta das oito horas ele refez a pergunta da noite anterior. Respondi que grande parte das minhas atitudes não estão em conformidade com o que passa em meu interior. Ele perguntou o porquê deu estar agindo assim, e eu o respondi que pelos mesmo motivos que ele, medo e também vergonha. Ele, olhou bem no fundo dos meus olhos e disse: -"O medo de sofrer é pior do que o próprio sofrimento.". Despediu, e foi então embora.